A (In)Sustentável Leveza de Ser Passista

21/01/2017

Existe na vida de um Passista um momento chamado escolha. Nós escolhemos ser Passistas.

Mas quem de nós, Passistas, consegue afirmar que esta decisão foi racional como toda e qualquer escolha que fazemos? Qual Passista virá aqui me contar que, no instante em que incumbiu aos seus pés ser responsável pela magia da dança do samba, não foi adornado por um encanto?

O título deste post é uma alusão ao best-seller "A insustentável leveza do Ser", de 1982 ( antes mesmo do sassarico na Marquês), de autoria Milan Kundera. Mas o que isto tem a ver com o Dia dos Passistas? Eu respondo o que penso para vocês: As entrelinhas desta obra mencionam elementos que também envolvem nuances do caminho de ser Passista.

A história conta que nossas escolhas - cada qual, qualquer uma - impactam nossas vidas e nesta opção reside um "peso insustentável" que se manifesta e nos norteia porque precisamos assumir o que queremos para nós. O exercício de reconhecer o que se apresenta é equilibrar as dores e mostrar graça diante dos acasos que devemos suportar.

Ora, ora... Se pensarmos no que ser Passista representa para nós, em todas as esferas da nossa vida, acho que veremos muitos passos nortearem relacionamentos, trabalho, estudos e uma série de questões importantes as quais singularizam nossas histórias pessoais.
E é aí gente que sentimos a importância de sermos Passistas e seguirmos resistentes aos desencantos que temos que amargurar em muitas agremiações. Nós sabemos o nosso papel, para além daquele diretor de harmonia, entendemos o que o nosso samba representa no Carnaval.

A relação peso e leveza existente em cada Passista está na dualidade de termos uma representatividade singular e plural, isto é, como passista/pessoa e como grupo/ala.

A memória poética registra o que encanta. Neste sentido, ao nos olharem, muitos tentam descobrir os detalhes que nos fazem únicos, especiais. Sendo assim, a visão de grupo passa a ser necessariamente descartada e o interesse passa ser a percepção de um indivíduo. Isto é, para ver a malandragem, o nhém nhém tem que se deixar levar por um/uma Passista ou um casal. A medida para nos envolvermos magicamente e termos uma experiência única com os passos do samba é a unidade. Na dimensão plural, a ala tem o poder de apresentar a grandeza da dança do samba,

O desejo de se descobrir o que tornam os Passistas únicos está, de certa forma, atrelado ao mistério do samba - expressão atribuída ao inexplicável entrelace da razão com a emoção. Ao pensarmos e pesarmos a escolha de ser Passista, percebemos que tem uma história em cada um, sabe? Existe uma jornada até o dia do desfile, renovada a cada Carnaval, e é exatamente por isto que o samba de cada um é tão único. Não é só porque a bateria de cada agremiação é diferente. Cada um sabe do esforço que fez e faz para ser digno de ser Passista.

O drama da vida de cada indivíduo que se torna Passista pode ser sustentado pela entrega ao seu samba, no ritmo da sua bateria. Aqui podemos encaixar a metáfora do peso, muito mencionada no livro que nos inspira o título: uns aceitam o fardo (responsabilidade) de ser Passista, outros não. Ser Passista não é qualquer um que pode ser. É neste ponto que reside a insustentável leveza de sê-lo.

Se existe alguma inverdade em um passista, é justamente diante do nosso público, mas não nos leve a mal. É porque vocês nunca farão idéia de nossa jornada, do que passamos para sambar para vocês. O nosso melhor sorriso mistura as alegrias e dissabores e, ao interagimos com o jeito que os olhos nos observam, mostramos a vida que é ser Passista.

E o que dizer da vida, senão que é a que se vive, sem ensaios. Tome-a como exemplo, porque tem jornada no passo de um Passista. Passista é a vida como ela é. Ah, e não se engane com nossos ensaios, a cada um que você for, eu vou sambar diferente, minha ala vai ser grande como nunca. O samba que mora na gente vai fazer do seu olhar visita estimada e inesperada, em um instante entre o peso do que representa ser o responsável por mostrar a dança do samba e a leveza de ser entregue à dança do samba.

Espero que a partir de hoje você perceba que todo Passista é único e plural. Ser dual que sustentou em si a destreza de sorrir porque é digno de sambar.

Rafaela Bastos / Musa da Estação Primeira de Mangueira e da Nike ®, Geógrafa especializada em Gerenciamento de Projetos / Empreendedora / Comentarista de Carnaval / Palestrante /  Todos os direitos reservados
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